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domingo, 27 de abril de 2014

Violência: como explicar o fato de o Nordeste ter sete cidades entre as 30 mais violentas do mundo?

Estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) confirma pesquisa de ONG mexicana em que sete cidades da região Nordeste aparecem entre as 30 mais perigosas do mundo
GIL JACÓ
Professor do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência da Uece (Covio)
Há dois pecados originais do Estado brasileiro na violência no Brasil: o primeiro é o da omissão. As cidades, especialmente no Nordeste estão entregues à lógica dos agenciamentos individualizados.Sabemos que há leis de trânsito, mas poucos cumprem; paredões de som impõem sua lógica como estética de entretenimento impositivo que se somam a outras infinitas incivilidades sem que haja a mediação do Estado como forma de resolução e ou prevenção. Segundo pecado é o do excesso: quando o Estado age, o faz pelo uso excessivo da força, utilizando-se do seu poder de polícia, com o uso da violência em nome da ordem.Que ordem? Ausência ou omissão do Estado são reforçadas por políticas governamentais equivocadas no que respeitam à segurança e proteção dos indivíduos. Resultado é a busca de resoluções de conflitos ordinários pautados pelo não reconhecimento dos órgãos estatais de segurança e proteção social, mas pelo desejo de cada um.

EDUARDO TAVARES
Procurador de Justiça e ex-secretário da Defesa Social de Alagoas
A violência não é, obviamente, um fenômeno exclusivo do nosso Estado: ele se tornou uma mazela global, ceifando vidas e enlutando lares.Dizer que Maceió é a quinta cidade mais violenta do mundo é um equívoco derivado de discrepâncias metodológicas. Posso afirmar isso com toda certeza. Quando fui secretário de Estado da Defesa Social, conseguimos diminuir bastante esses números, de sorte que, em março deste ano, os índices referentes aos crimes de homicídio doloso recuaram 23% na Capital, e 12,7% no Estado. Os critérios de aferição da criminalidade adotados pelas diversas unidades da federação nem sempre são os mesmos, tanto na coleta quanto na depuração dos dados – e essas diferenças se refletem nos resultados, como não poderia deixar de ser. Colocamos a Polícia nas ruas, instalamos vários projetos para dar mais segurança à população local e aos turistas, e essas ações surtiram o efeito esperado já nos primeiros meses do ano em curso.

GLAUCÍRIA MOTA BRASIL
Coordenadora do Laboratório de Direitos Humanos e Cidadania da Uece e pesquisadora do CNPq
O crescimento da criminalidade e da violência no Brasil e a migração deste para cidades nordestinas é resultado de uma conjunção de fatores, dentre eles destacamos: a inexistência de políticas públicas de Estado que compreendam a segurança da população para além da atuação das polícias. Somadas a essa problemática (que qualifico como central nesse fenômeno) estão a incapacidade política dos governos democráticos pós-ditadura em reformar as estruturas internas de poder das forças de segurança e, o mais grave, a inexistência de gestões orientadas por diagnósticos, planejamentos e avaliações sistemáticas para a área da segurança pública. Esse contexto é revelador das fragilidades da gestão pública, numa área em que fazer, ou não fazer, significa: não deixar matar ou deixar matar. Esse dilema está para além da temporalidade desses governos e das suas propostas salvadoras em época de eleições.

MARIA CRISTINA R. MENESES
Delegada Geral da Polícia Civil do Maranhão
Estamos enfrentando uma epidemia do crack. No Nordeste, onde a população tem o poder aquisitivo menor, o crack é mais utilizado, alcançando principalmente os adolescentes. O crack durante um tempo sustenta um vício e depois te envolve noutras práticas.Outro fato, o Maranhão, publica, diariamente, sem maquiagem, seus índices de violência; sabemos que em muitos Estados do mundo se camufla essas estatísticas; todos conhecem nossos números, sem maquiagem. Nos últimos cinco anos isso cresceu aqui, infelizmente.Nossos números de homicídios não cresceram em um ano, tivemos uma queda deles, desde 2013. Segundo nossos levantamentos, os índices cresceram sempre que estiveram ligados ao tráfico do crack. Mas vale ressaltar que o índice de homicídios baixou, não pela diminuição da comercialização do crack, mas por meio de uma ação conjunta das polícias. Enfim, estamos trabalhando para diminuir esses números em nossa região.

PAULO QUEZADO
Advogado e ex-presidente da OAB-CE
A violência no Nordeste é algo que infelizmente tem sido destaque nos noticiários brasileiros e até mesmo internacionais. O relatório publicado recentemente pelo Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas, apontam que entre as quinze cidades mais violentas do mundo, quase metade são nordestinas: Maceió, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Salvador e São Luis. A explicação fulcral para tal fenômeno, certamente parte da ineficiência na implementação das políticas de segurança públicas nestes locais. O crescimento da violência é inversamente proporcional à presença eficiente do Estado. É preciso repensar as estratégias eleitas e, concomitantemente, entender a segurança pública como um fato social integrado, que necessita de faceta preventiva, e não meramente remediativa, e que depende do sucesso de políticas paralelas, como a de combate às drogas, que, na esmagadora maioria das vezes, está associada à violência homicida. 

CLÁUDIO RIBEIRO
Jornalista do O POVO
Poucos dias atrás, ouvi de uma pessoa que está na lida do Direito a seguinte frase: “A gente faz de conta que está punindo e os bandidos estão é achando graça da gente”. Difícil não se incomodar com a declaração. Mantenho o off em respeito à fonte, mas isso é fato. A inteligência criminal existe, é organizada, desburocratizada, ocupa espaços importantes dentro do aparelho estatal e se municia muito melhor. Infelizmente é assim que é. Onde as delegacias não têm pessoal para registrar BOs, é lá que as estatísticas serão subnotificadas e as políticas públicas não serão implementadas. Em cidades onde o contingente de policiais militares não chegue à uma dezena, é lá que será mais fácil cercar a população enquanto se explode uma agência bancária. Há pouco mais de cinco anos, chegávamos ao milésimo homicídio no Ceará só no segundo semestre. No último dia 19 - ainda estamos em abril - passamos do assassinato número 1.500.

Fonte: O Povo

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