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sexta-feira, 2 de junho de 2017

CARTA DE REPÚDIO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


Aos discentes, docentes e corpo técnico-administrativo da UFC- Sobral.

"Meu nome é Viviane Arruda de Castro, tenho 23 anos, sou estudante do décimo período do curso de Odontologia da UFC-Sobral. Venho por meio desta carta relatar um acontecimento que se sucedeu no dia de ontem 30 de maio de 2017 por volta das 18 horas no Restaurante Universitário. Estava indo jantar como de costume, e após pegar meu prato e ir em direção às mesas fui abordada por uma pessoa, a qual tive um relacionamento por um período de 1 ano e alguns meses há um 1 ano e meio atrás. O mesmo encontrava-se em estado exaustado ao dirigir a palavra a minha pessoa , já utilizando de agressão verbal e ameaças. Ignorei e segui em direção ao bebedouro como sempre faço, e o mesmo continuou me seguindo e realizando tais ameaças de forma exaltada. Respondi o mesmo em tom alto, e por falta de controle dele, simplesmente tive o copo com água que estava na minha mão arremessado contra meu rosto. Respondi a agressão em legítima defesa, fui agredida mais uma vez e me assegurei de acionar as autoridades responsáveis e as devidas providências foram tomadas.

Resolvi me pronunciar sobre o acontecido por mim e não por qualquer outra pessoa. É muito simples parar e não ser recíproco com outro, muito menos se importar com uma situação que não lhe diz respeito. É muito mais cômodo parar e não se envolver, e até mesmo culpar terceiros ou até mesmo a própria vítima em uma situação de agressão. O que eu quero dizer é que independente da situação, que no meu caso foi estar conversando com a ex namorada da pessoa a qual me agrediu, onde houve sorororidade no nosso diálogo e onde encontrei uma pessoa que viveu praticamente as mesmas coisas que eu vivi, e vi alguém de muita força e garra, a culpa nunca é da vítima.

Nada justifica o fato de uma pessoa se achar no direito de agredir, seja psicologicamente, verbalmente ou fisicamente outra pessoa. Eu me calei, diversas vezes, porque sempre acreditei que as pessoas podem melhorar de alguma forma, acredito na evolução espiritual, acredito que ódio não se paga com ódio e sim com amor, acredito que o mundo talvez fosse um pouco melhor se houvesse mais reciprocidade entre as pessoas.

Em nenhum momento do acontecimento houve uma pessoa que se manifestasse ou viesse intervir na situação, mas a vida é assim. Não posso tornar as minhas experiências as experiências dos outros, eu já sofri bastante, e hoje eu aprendi que a minha felicidade não depende de ninguém a não ser de mim mesma, e venho vivido muito bem.

Tenho a minha consciência tranquila de que não fiz nada de errado, e o que dói não é ser agredida fisicamente, porque isso passa. Muito mais que isso, dói o julgamento, o constrangimento, a falta de apoio de pessoas que convivem com você e que supostamente gostam de você e que te amam. Qualquer tipo de violência, seja contra mulher ou outra pessoa , é crime.

Talvez venha a escutar comentários, "porque que você foi mexer com isso?", "Aconteceu porque foi atrás de confusão". O meu direito de ir e vir me assegura transitar e conversar com qualquer pessoa sobre assuntos que eu julgar plausíveis pra minha vida. Independentemente de ser mulher, eu fui criada com valores os quais talvez estejam perdidos ou apenas silenciados em muitas pessoas, sei assumir a culpa quando estou errada e arcar com as consequências .

Não falo porque quero repercussão, falo porque espero que as pessoas evoluam um pouco e dêem a devida importância a situações como a qual eu passei. Falo por que me calei no passado, e milhares se calam todos os dias. Falo porque o mundo precisa de mais reciprocidade, e a vida talvez se torne muito mais leve se todos passarem a se importar não somente com sua causa e se solidarizarem com o próximo. O mundo precisa de mais amor e menos ódio.

Nesse momento me encontro triste sim, me sinto violada, não me sinto protegida e me dói estar sendo assunto na boca de pessoas que não me conhecem, não sabem o carinho e amor que eu tenho pelas pessoas que eu gosto, não sabem o trabalho que eu realizo dentro da universidade, quem me conhece e convive comigo sabe que eu sou totalmente contra a qualquer tipo de agressão.

Mas isso que aconteceu, servirá de aprendizagem para mim, e talvez todos vocês que presenciaram ou souberam de forma não completa do acontecido, porque é a partir disso que o assunto pode ser colocado em pauta e ser colocado em discussão, para que todos possam criar um senso crítico sobre. Não sinto raiva de quem me agrediu, na verdade peço que Deus tenha misericórdia de uma alma tão fraca e que a espiritualidade e a vida se encarregue.

"Eu não me vejo na palavra, fêmea, alvo de caça, confirmada vítima. Prefiro queimar o mapa, traçar de novo a estrada, ver cores na cinzas e a vida reinventar"

Viviane Arruda de Castro

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