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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Investigações sigilosas do Ministério Público mostram alastramento do crime dentro da Polícia cearense

Pela segunda vez em duas semanas, a imagem da Segurança Pública do Estado do Ceará sai arranhada diante de investigações que apontam o suposto envolvimento de agentes públicos com corrupção e organizações criminosas. Foram duas operações, uma da Polícia Federal e outra do Ministério Público Federal, denominada de “Vereda”. A segunda, batizada de “Saratoga”, realizada pelo Ministério Público Estadual (MPE) em parceria com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Em ambas, policiais civis acabaram presos, outros conduzidos coercitivamente e alguns já indiciados em inquéritos ou denunciados à Justiça.

O ano de 2017 com certeza ficará marcado para a Segurança Pública não apenas pelo registro recorde e histórico de assassinatos no estado (em torno de 5 mil mortos), mas do aprofundamento de investigações que descortinaram a participação de servidores das corporações subordinadas ou vinculadas à SSPDS em extensas teias criminosas. Bom que se diga, porém, que nenhum deles foi ainda julgado ou condenado e, portanto, estão na condição de “investigados” ou “processados”.

QUADRILHAS INVESTIGADAS

No caso da “Operação Vereda”, a Polícia Federal prossegue nas investigações que apontam, a princípio, a formação de uma célula criminosa dentro da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas, a DCTD, ou Denarc. Os agentes teriam montado uma quadrilha para extorquir traficantes e, para isto, se associaram a falsos policiais os chamados “almas”. Quebra de sigilo telefônico, videomonitoramento e outras ferramentas investigativas mostraram o grau de envolvimento de policiais na trama. Contudo, a PF ainda prossegue na apuração.

Já na “Operação Saratoga”, as coisas estão bem mais adiantadas e um delegado da Polícia Civil, policiais civis e militares já foram denunciados formalmente pelo MPE junto à Comarca de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e se tornaram réus no processo que apura o envolvimento deles com quadrilhas ligadas à facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).

DELEGADAS FALAM

No auditório da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol), no Centro de Fortaleza, uma coletiva de Imprensa foi realizada na tarde desta quinta-feira (14) com um objetivo: dar voz a duas delegadas que tiveram seus nomes incluídos na “Operação Vereda”. Patrícia Bezerra e Anna Cláudia Nery. Ao lado do presidente da entidade, Milton Castelo, e do advogado da instituição, Leandro Vasques, as duas servidoras se declararam inocentes e injustiçadas diante das acusações de envolvimento com a “máquina de extorquir” montada dentro da DCTD. Foram enfáticas ao ressaltar o trabalho árduo na luta contra as drogas e, especialmente, a falta de provas de que elas estariam metidas no crime. E têm razão. Até agora, pelo menos, na investigação da PF não constam provas de que ambas eram beneficiadas ou omissas com a patifaria dos maus policiais. Resta agora saber se até o fim da investigação, e em sendo comprovada a inocência, elas voltarão aos seus cargos e restituídas de sua imagem de delegadas exemplares. Justiça terá que ser feita.

“CEBOLA” FINANCIA CRIMES E FACÇÕES

No aprofundamento da “Operação Saratoga” ficou mais uma vez comprovado que o comando do crime organizado no Ceará está instalado no coração do Sistema Penitenciário local. Dentro dos presídios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) estão os chefes de quadrilhas e de facções criminosas que mandam e desmandam. São eles os responsáveis pela ordem para seqüestrar, extorquir, ameaçar, roubar e matar. “Coma análise das interceptações telefônicas autorizadas judicialmente, foram identificados vários integrantes do PCC no Ceará, bem como, foi constatado que alguns componentes do (facção) Primeiro Comando da Capital – PCC, possuem o seu próprio grupo criminoso que atua de forma regional e delimitada geograficamente, mas não menos prejudicial, embora devam fidelidade à organização criminosa através do pagamento da “cebola” (espécie de mensalidade paga pelos que estão fora da prisão), ou da compra, venda e distribuição de drogas e armas, em conjunto”, relatou o Ministério Público Estadual.

O CHEFÃO E OS CRIMES

Leandro de Sousa Teixeira. Este é nome do bandido que comanda o PCC no Ceará. E com ele, outros criminosos já bastante conhecidos da Polícia cearense movimentam muito dinheiro na venda e distribuição de drogas entre os presídios. As negociações correm soltas através dos telefones celulares nas mãos dos criminosos. Eles especificam a quantidade de cocaína que têm para vender, estabelecem os preços e até data e hora de entrega. Dizem como e quem fará a entrega e como arrecadar o dinheiro. E assim, o crime organizado vai avançado no Ceará e as execuções sumárias nas ruas aumentando dia a dia, através das ordens dos “chefões”. Quem “fura” o esquema, morre. Daí os crimes misteriosos que ocorrem todos os dias, com corpos decapitados, esquartejados, mutilados ou carbonizados deixados em favelas, matagais, estradas, terrenos baldios ou mesmo em vias públicas. O estado paralelo do crime avança a galope no estado.

MEDALHA DE PRATA

Um consolo para os gestores da Segurança Pública do Ceará. O estado ficará com a “Medalha de Prata” no ranking dos assassinatos no Brasil em 2017. Isso porque nesta quinta-feira (14), Pernambuco alcançou a marca dos 5 mil homicídios no ano. No Ceará, o “Homicidômetro” registrou até a manhã desta sexta-feira (15), 4.908 crimes. Mas antes do Natal (faltando 10 dias) o Ceará também vai alcançar a triste marca. Será o “presente de grego” que a população receberá. A guerra travada entre as facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE) acelera essa macabra contagem de defuntos, as vítimas da violência. Resta agora esperar a chegada de 2018 para o governo tentar reverter tal situação. A cobrança será alta no ano de eleições. O modelo de segurança cearense (se é que tem um) fracassou. Depois do “Ceará Pacífico” veio agora o “Ceará Pacífico em Ação”. Qual será o próximo???

BANCOS SEGUROS

Agências bancárias no Ceará terão que se adequar à lei sancionada pelo governador Camilo Santana nesta quarta-feira (14), que prevê maior rigor na segurança. Contudo, as instituições financeiras (a exemplo do que fizeram as operadoras de celular quando da lei estadual que estabeleceu o bloqueio de sinal de celulares nos presídios) deverão recorrer à Justiça ou mesmo ignorar a nova legislação, já que segurança bancária é estabelecida em lei federal e fiscalizada pela PF. Sinal disso é que nenhum representante dos bancos esteve na solenidade de assinatura da lei. Pela regra estabelecida, as agências terão que contar com botão de pânico, cabine blindada para os seguranças, biombos para impedir a visão do que ocorre nos caixas, inutilização de cédulas no caso de explosão de caixas eletrônicos, portas com vidros laminados resistente a ao impacto de tiros, além de porta eletrônica de segurança, giratória e individualizada, entre outros recursos.

E TEM MAIS:

* A exemplo do que já havia ocorrido em Juazeiro do Norte e Sobral, o Município de Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) já ultrapassou o registro de 100 homicídios em 2017. A matança ali não tem fim, por conta da guerra entre duas quadrilhas de traficantes de drogas.

* Um jovem de 18 anos foi a mais recente vítima de execução sumária ordenada por traficantes que comandam a cracolândia da favela do Oitão Preto, em plena zona central de Fortaleza. Foi morto, a tiros, na madrugada de quinta-feira, na esquina das ruas Doutor João Moreira e General Sampaio.

* No próximo dia 22 a Prefeitura de Fortaleza vai inaugurar as duas primeiras células do programa Municipal de Proteção Urbana (PMPU). São duas torres de comando da segurança que estão sendo instaladas na Praça do Jangurussu e ao lado da Areninha das Goiabeiras, na Barra do Ceará.

* Mais atuante do que nunca, o Conselho Estadual da Segurança Pública, sob a presidência do advogado criminalista Leandro Vasques, se reuniu nesta sexta-feira (15) no Palácio da Abolição. Foi a vez da Secretária de Justiça e Cidadania, Socorro França, ser ouvida sobre sua gestão na Sejus.

* Estradas cearenses (federais e estaduais) têm registrado, nas últimas semanas, altos índices de acidentes com mortes. A maioria dos sinistros foi ocasionada por colisões frontais em decorrência de ultrapassagens em locais proibidos. Manobras desse tipo geralmente não terminam bem.

* A PERGUNTA DO DIA: Chegamos à metade do mês de dezembro, quando a SSPDS vai divulgar os índices oficiais dos CVLIs (Crimes Violentos, Letais e Intencionais) de novembro???

Fonte: Jornalista Fernando Ribeiro

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