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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Com 400 mil desempregados, Ceará vê o crescimento da informalidade no mercado de trabalho

O desemprego no Ceará atingiu 400 mil pessoas em junho. A 8ª reportagem da série do Jornal Jangadeiro nas Eleições 2018 aborda a agonia de muitos trabalhadores cearenses.
O desemprego atingiu mais de 400 mil pessoas no Ceará até junho de 2018. E o caminho de grande parte dessa população é o trabalho informal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 1 milhão de pessoas trabalham informalmente no estado.

Para o mercado, o cenário é de incertezas, apontam especialistas, ainda mais com as novas relações de emprego e com a modernização do mundo do trabalho, embora tentem manter o otimismo.

Após perder o emprego, Aurizete Jesus buscou uma fonte de renda própria. Ela resolveu montar uma banca de lanches e refeições numa praça. “Eu já tinha as coisas de lanche, vi o movimento aqui na praça e resolvi. Depois quecomecei a trabalhar aqui, consegui minha casa própria, pretendo ter meu transporte”.

Para dar conta do movimento, Aurizete tem a ajuda de Edilberto de Lima. Ele estava há 5 meses desempregado, também resolveu vender lanches e não pensa mais em conseguir um emprego formal. “Estou trabalhando para mim, sustento minha casa, minha família, daqui dá para mim sobreviver”.

Para eles, o negócio fora do mercado formal de trabalho tem dado certo, mas não é regra para todas as pessoas que vivenciam situação semelhante. No segundo trimestre de 2018, de acordo com o IBGE, 472 mil pessoas estavam desocupadas no Ceará. Esse número, em junho, era 12 vezes maior do que toda a população do município de Itaitinga, na Grande Fortaleza. Entre as pessoas que decidiram trabalhar por conta própria, o rendimento médio era de R$ 811, menos de um salário mínimo.

Considerando todos os tipos de ocupação, um trabalhador cearense tem rendimento médio de R$ 1.465,00, valor que não chega a dois salários mínimos. Ao menos uma renda fixa é o que Vanessa procura. O último emprego foi temporário e hoje trabalha como manicure. “Realmente queria um trabalho fixo, porque manicure é bom, mas você não tem uma segurança”.

A informalidade no Ceará é grande. Mais de um milhão de pessoas trabalham por conta própria, segundo o IBGE. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Marcos Freitas, no estado é comum empresas que pagam apenas parte do salário na carteira de trabalho. “A própria condição socioeconômica do estado tem dificuldade de ter um volume de mão de obra com carteira assinada. Aqui no estado a gente ainda encontra questões de ‘subemprego’. Empresas que pagam uma parte do salário na carteira e uma parte por fora”.

O coordenador de estudos e análise de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquisa, comenta que há grandes rotatividade da mão de obra. “Nós temos quase 400 mil trabalhadores que anualmente são admitidos no mercado e quase em igual proporção são demitidos”.

Ainda afirma que os municípios mais estruturados são os que têm um maior peso na economia e na geração de posse de trabalho, enquanto os que têm nível menor possuem grandes níveis de informalidade. “O trabalhador cearense ganha 20% a 30% menos do que outros trabalhadores de outras regiões das mais diferentes ocupações. Temos um problema muito grande de estrutura salarial, isso faz com que tenhamos um nível de informalidade muito alto”. 

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em agosto houve 29.468 desligamentos e 33.496 contratações no estado. Ou seja, 4.028 novos postos de trabalho no Ceará. O Caged também mostrou que, a cada três vagas de trabalho criadas no estado, uma está em Fortaleza.

Erle afirma que houve uma geração expressiva de posse de trabalho puxada por alguns setores como o de comércio e serviços. “Embora ele esteja mais concentrado tanto em termos territoriais como em termos de setores atividade econômica”. Ele comenta que o comércio sentiu mais a crise. “É um setor que tem quase 4 mil posses de trabalho fechado no acumulado do ano, fruto do desemprego, do endividamento das famílias, o que faz com que a demanda seja menor e isso acabe impactando na geração de trabalho no setor”.

Os problemas relacionados à criação de empregos e elevação da renda média não se resumem aos pequenos municípios ou às cidades distantes da capital. Caucaia, que tem a segunda maior população do Ceará e que abriga parte do complexo industrial e portuário do Pecém, registrou redução no número de carteiras assinadas em agosto, na contagem de contratações e desligamentos. Foram 136 postos de trabalhos perdidos na cidade, que é próxima à Fortaleza.

O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Marcos Freitas, comenta que o momento econômico e político pelo qual o país passa afeta diariamente a questão do emprego. “Nós temos um retorno de 15 milhões de pessoas que não estão trabalhando”.

Ele afirma que, com a evolução do mundo, vão desaparecer até o ano de 2025 aproximadamente 5 milhões de postos de trabalho, mas que surgirão novas tendências que precisarão ser preenchidas. De acordo com o presidente, para reverter a situação é necessário ter atitude. “Da iniciativa pública e privada. Olhando pela parte pública, a gente vê o descaso. Um dinheiro mal canalizado, mal aplicado mal orientado, falta de recurso pode ter certeza que não é”.

Erle Mesquita comenta que é necessário ter uma linha econômica mais favorável. “Uma certa estabilidade de linhas de créditos, taxas de juros mais baixas, para que tenha um ambiente mais favorável para os trabalhadores e as empresas poderem produzir”.

(Tribuna do Ceará)

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