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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Quando a investigação policial não acontece

Vítimas da violência reclamam da falta de apuração de diversos crimes por parte da Polícia. Também há relatos de casos em que os próprios funcionários das delegacias desencorajam as vítimas a registrar as ocorrências
Cozinheira conta que, após sofrer um acidente, buscou uma delegacia para fazer BO, mas foi desencorajada por funcionários do local

Toda vez que um cidadão é alvo de uma ação criminosa, a principal recomendação das autoridades policiais cearenses é que o caso seja registrado, através de um Boletim de Ocorrência (BO). Mas a ação, apesar de essencial para a formulação das estratégias de segurança e conhecimento do quadro de violência no Estado, está frustrando os vitimados. Isso porque parte dos casos, de percentual inestimado, não é investigado. O problema se agrava quando os próprios agentes de segurança desestimulam as vítimas a buscar o auxílio da Polícia.

Foi o que aconteceu com uma cozinheira de 44 anos. Na semana passada, dia 14, a mulher foi atropelada, supostamente, de maneira intencional. Ela conta que, após sofrer o acidente, buscou uma delegacia para fazer um BO, mas foi desencorajada por funcionários do local. “E se a pessoa que fez isso for um bandido? Você vai querer se envolver nisso, sua família?”, foi o que ouviu na delegacia, relembra.

O relato sobre o episódio, além de traumatizante, agora envolve frustração e medo. Moradora de Aquiraz, há mais de um ano ela vai e volta do trabalho em uma moto. Na tarde do acidente, ela seguia para o Centro da cidade quando, numa entrada à esquerda devidamente sinalizada, um carro preto, que ela já havia visto no caminho, bateu na traseira da moto. A cozinheira foi derrubada no asfalto, com a moto por cima do corpo, vazando gasolina.

Ela contou ainda que, mesmo no chão, a motocicleta foi atingida outras vezes pelo automóvel. Ao sair, o veículo passou próximo de sua cabeça e deixou o local, sem prestar qualquer socorro. “A questão não é o acidente, que a gente sabe que pode acontecer, mas a forma como o carro continuou a bater. Fiquei apavorada”, detalhou, com a voz embargada e o corpo repleto de hematomas.

Socorrida por pessoas dos comércios da região, ela recebeu atendimento médico e foi até uma delegacia (não informada a pedido da vítima) na quinta-feira seguinte. Com o número da placa do carro envolvido no acidente e documentos pessoais em mãos, ela aguardava a assinatura do delegado numa guia para a realização do exame de corpo de delito quando teria ouvido de um funcionário que não iria adiantar de nada aquele procedimento. O funcionário teria dito ainda que a Polícia não iria atrás da história e não aconselhava que a cozinheira o fizesse.

Sem investigação

O POVO também encontrou casos em que, mesmo quando o BO é registrado com sucesso, a frustração ocorre pela falta de investigação da Polícia Civil. Foi o que aconteceu com um casal, morador do bairro Luciano Cavalcante, que teve a casa invadida por criminosos em setembro do ano passado.

Enquanto uma funcionária recebia um entregador de água, o imóvel foi invadido por homens armados, que renderam a família e roubaram vários objetos de valor.

Televisores, computadores, roupas e um automóvel foram levados, enquanto as vítimas eram mantidas em um banheiro e debaixo de uma pia, na área de serviço. O veículo foi localizado somente 48 horas depois, abandonado em frente a um imóvel, na Lagoa Redonda, que também foi assaltado. Após uma tentativa de lavrar um BO no 13º Distrito Policial (Cidade dos Funcionários), o caso foi registrado no 26º DP (Edson Queiroz). Entretanto, até hoje os objetos não foram recuperados. Os acusados também não foram identificados.

“A investigação não tem resultado. Dias depois, ouvi falar que prenderam alguém com esse esse tipo de prática. Mas os objetos não apareceram. Procurei nas delegacias, tentando reaver algo. Mas a gente chega lá e ficam no empurra-empurra, mandando a gente de um lado para o outro. Fiz o BO para deixar registrado, mas a possibilidade de reaver o pertence roubado é quase zero”, contou o morador da residência.

Fala internauta

Casos semelhantes foram relatados por internautas na página do O POVO Online no Facebook. Na enquete “Você já precisou de ajuda policial e não foi atendido?”, um dos comentários informa que um escrivão de Polícia Civil teria dito para a vítima que o registro da ocorrência não “adiantava”. “Eu fui atendida, mas com total descaso. Invadiram a minha casa e roubaram vários pertences e, ao chegar na delegacia para fazer o BO, escutei os seguintes dizeres do escrivão: ‘Só está perdendo tempo aqui, não vai adiantar nada registrar’. Mesmo assim o fiz. De fato, nada adiantou”, postou Christine.

“Arrombaram o meu carro e levaram o que tinha no porta-malas. A Polícia demorou mais de três horas para chegar ao local e ainda ficaram de risinhos quando eu falei da busca do assaltante. Não tive respostas. Fui à delegacia e só promessas sem retorno”, escreveu Marília Galvão.

Fonte: O Povo

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