SIGA-NOS NO INSTAGRAM: @sobral24horas

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Geração perdida

Por dia, quase três adolescentes e jovens foram assassinados no Ceará em 2010. Foram 1.013 mortes, média de 2,7 por dia. Os crimes avançam mais rápido entre garotos de 12 a 17 anos

Jovem em centro de recuperação para dependentes químicos. Para a Polícia, não é possível associar os homicídios exclusivamente ao tráfico de drogas (IGOR DE MELO
)
Jovem em centro de recuperação para dependentes químicos. Para a Polícia, não é possível associar os homicídios exclusivamente ao tráfico de drogas (IGOR DE MELO )


A vida adulta não existiu. Para 1.013 adolescentes e jovens, não deu tempo. Levantamento estatístico da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou quantas pessoas entre 12 e 24 anos foram vítimas de homicídio doloso, com intenção de matar, em 2010. Em média, 2,7 foram assassinados por dia no Estado. O número de homicídios nessa faixa etária foi 18,8% maior em relação a 2009 e 36,3% em relação a 2008. É como se uma enchente como a que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro, tivesse acontecido por ano no Ceará, nos últimos três anos.

Os dados formam tabelas que não contam as histórias das vítimas. Mas apontam com muita clareza o perfil da maioria delas: do sexo masculino. Dos 1.013 assassinados no ano passado, 970 eram rapazes. Em Fortaleza, foram 590 vítimas nessa faixa etária em 2010, sendo 570 homens.

O crescimento de homicídios na Capital foi maior do que no Estado: 28,2% em comparação com 2009. Os jovens entre 18 e 24 anos foram as vítimas mais numerosas, mas na faixa etária dos 12 aos 17 anos elas cresceram em ritmo mais acelerado. Em um ano, entre 2009 e 2010, foram 33,8% mortes a mais de adolescentes do sexo masculino.

Não há respostas simples para explicar tantas mortes. “Você não pode vincular todo tipo de crime que envolva adolescentes e até adultos à questão do envolvimento com o tráfico de drogas”, alerta o titular da Delegacia de Homicídios, Rodrigues Júnior, sobre os lugares-comuns que tentam justificar os assassinatos. “No próprio local onde aconteceu o crime, pessoas desavisadas, principalmente os policiais, já esclarecem a causa da criminalidade, quando na verdade nenhuma investigação foi estabelecida. Dizer isso precipitadamente é uma irresponsabilidade”, frisa.

Apesar de reconhecer em muitos casos uma ligação evidente com o tráfico, o delegado não o aponta como “motor principal” dos assassinatos. Cita, no entanto, fatores sociais que conectam os jovens com a criminalidade e para os quais também não existem soluções simples. “A desestruturação ou desagregação familiar, a falta de oportunidade é outro fator, a falta de educação, de moradia, de trabalho. São políticas públicas que não são implementadas e conduzem forçosamente que os jovens trilhem pela criminalidade em suas diversas facetas”.
 
Pesquisa
Um estudo qualitativo dos assassinatos de meninos e rapazes na Região Metropolitana de Fortaleza começa a ser desenvolvido pelo professor e pesquisador Leonardo Sá, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Numa primeira análise, ele ressalta que a vinculação das mortes ao tráfico e consumo de drogas é muitas vezes uma fórmula utilizada para encobrir outras motivações para os crimes, como o tráfico de armas. 

Para entender a violência que vitima os adolescentes e jovens, ele afirma ser preciso incluir na equação muitos contextos, como tráfico de drogas e de armas, exploração sexual, tráfico humano, assaltos, sequestros, queimas de arquivo e, principalmente, a resolução violenta de conflitos interpessoais. “No que as armas estão disponíveis, o circuito da vingança interpessoal passa a ser reforçado, potencializado”, acrescenta.

Fonte> O Povo

0 comentários:

Postar um comentário

Comente esta matéria

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More