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quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Cantor Ednardo é homenageado com o Troféu Sereia de Ouro

O cantor e compositor Ednardo é um dos quatro homenageados com o Troféu Sereia de Ouro 2023, que também tem entre os agraciados a professora Regina Barbosa; o ministro Camilo Santana; e o empresário José Roberto Nogueira.

O Troféu Sereia de Ouro foi criado pelo industrial Edson Queiroz para homenagear personalidades que contribuem para o desenvolvimento e projeção do Ceará.

A TV Verdes Mares exibe uma série de reportagens sobre os homenageados com o Troféu Sereia de Ouro, que em 2023 chega a quinquagésima primeira edição.

É na Beira-Mar, cercado pela beleza de boas memórias e sentimentos, onde ele fica mais à vontade. É nesse cartão-postal onde fala quem é José Ednardo Soares Costa Sousa.

"Eu não sei quem eu sou. Eu sou uma incógnita pra mim. O meu trabalho é me traduzir através da minha vivência, da minha cidade, do meu referencial".

Ednardo tem 78 anos, é pai de quatro filho e formado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará. Mas foi com a música que ele ganhou o mundo e se tornou um dos maiores nomes da MPB. Ednardo é autor de um tipo de arte que tem impressão digital, como descreve o pianista e compositor Ricardo Bacelar.

"Ele usa elementos da cultura popular, do folclore e das tradições orais e ao mesmo tempo ele mistura com harmonia sofisticada. Ele mistura também com letras fortes e que tem uma simbologia forte também", diz.

Ednardo já lançou 14 discos e compôs mais de 300 músicas. Em boa parte das canções, o Ceará, a cidade de Fortaleza, as paisagens e pessoas daqui foram a sua inspiração.

Em família Ednardo gravou alguns dos seus trabalhos. O irmão, Rogério, foi testemunha e parceiro num dos álbuns mais consagrados da carreira de Ednardo, o Cauim, de 1978.

"Eu queria ser antropólogo, médico e a música me chamou. Exatamente porque meu irmão me deu régua e compasso pra isso", conta Rogério Soares.

O legado passa por gerações. Dos quatro filhos, três tiveram relação direta com a arte. Joana Limaverde, por exemplo, seguiu a carreira no teatro e na televisão.

"Aquele cheiro de teatro que quem faz teatro, quem tá no teatro sabe que tem um cheiro muito específico assim. E aquele monte de gente trabalhando ao redor. Então, eu acho que isso de alguma forma incutiu assim essa possibilidade", diz.

O pioneirismo é uma das principais marcas da carreira de Ednardo. O artista foi um dos nomes do "Pessoal do Ceará", movimento musical comparado à Tropicália e ao Clube da Esquina, criado por artistas cearenses na década de 70 que ganhou projeção nacional.

"Na geração do ‘Pessoal do Ceará’ o Ednardo é central porque ele marca muito forte o ritmo com o maracatu cearense", diz o músico e pesquisador Pedro Rogério.

O movimento surgiu de encontros entre amigos que compartilhavam o mesmo prazer: a música. Muitos deles aconteceram no Estoril, onde hoje funciona a Secretaria do Turismo de Fortaleza. Foi assim que, em 1973, nasceu o primeiro registro do Pessoal do Ceará, o álbum "Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem", gravado por Ednardo, Téti e Rodger Rogério. O disco carrega a cearensidade na concepção, nas letras, nas melodias e até na capa.

"Era uma das coisas que a gente fazia questão, inclusive, de mostrar um lado mais lúdico, mais alegre do Ceará, porque o Ceará era conhecido só pela seca. Então, a gente usou as rendas, o labirinto, na capa", relembra Rodger Rogério.

Um ano depois de lançar em disco, Ednardo driblou a censura de um dos períodos mais sombrios da história brasileira e cantou a esperança de alcançar a liberdade. Em 1974, ele foi buscar na tradição da literatura de cordel a metáfora do ‘Pavão Mysterioso’. A música se tornou um dos grandes sucessos da carreira e foi o tema de abertura da novela Saramandaia, da TV Globo, de 1976.

"Eu me lembrei que quando eu era pequeno eu tinha lido o cordel, o romance do Pavão, que falava justamente de um homem é o mecanismo de voo para alcançar uma princesa lindíssima, enclausurada. Quem é essa nossa princesa inacessível no momento, é a liberdade", diz Ednardo sobre a composição.

O amor pelas cores, histórias e texturas de Fortaleza já havia sido cantado por Ednardo nos primeiros trabalhos. As parcerias com o 'Pessoal do Ceará' já tinham se tornado um marco na cena musical do estado. Com Pavão Mysterioso tocando na abertura de cada novo capítulo de Saramandaia, ele atingiu o auge da visibilidade.

Ednardo parecia já ter feito de tudo. Mas um novo projeto marcou de vez o legado do cantor na história da música popular. E esse projeto aconteceu no Theatro José de Alencar, um dos maiores templos da arte do Ceará.

Em 1979, cerca de 400 artistas, de todo o Ceará, se apresentaram no teatro. Ednardo foi um dos idealizadores do Massafeira Livre, que durou quatro dias e reuniu alguns dos maiores nomes da arte cearense.

“Aqui você não sabia o que era palco, nem plateia. Isso aqui tudo lotado, não cabia, e aí o pessoal subiu no palco. Foi uma coisa emocionante e bela de vivenciar, de ser testemunha de um movimento cultural, que iniciou com o ‘Pessoal do Ceará’, continua com Massafeira e depois foi vindo. A gente parou de dar nome”, conta Ednardo.

Entre todos os artistas que participaram do Massafeira Livre, 80 formaram um grupo que foi ao Rio de Janeiro para gravar um disco duplo. O trabalho enfrentou resistência da gravadora, mas foi lançado depois de uma luta insistente dos músicos. Entre eles, estava Mona Gadelha. A artista se inspira na obra de Ednardo desde os 17 anos de idade

"Naquele momento da Massafeira e eu tive oportunidade de me aproximar mais ainda do Ednardo. Ele foi muito generoso ao me convidar, e convidar a turma do rock. A gente ficou mais de um mês no Rio com essa missão de gravar o disco, dirigidos pelo Ednardo, pelo Augusto", diz Mona Gadelha.

Ao longo dos anos, Ednardo se transformou em colecionador. Na discografia, de grandes sucessos. Nas relações pessoais, de grandes amizades e parcerias. Como a com o compositor e arquiteto Fausto Nilo, responsável pela capa do disco de 1977, o "Azul e o Encarnado".

"Aí a mensagem principal foi exatamente a cor do trabalho dele, que ele estava fazendo nessa época, digamos, o colorido do trabalho dele", diz Fausto Nilo.

Na coleção de amizades e parcerias está a produtora Maira Sales. Já são 15 anos de trabalho e aprendizado com alguém que vive o presente de olho no futuro.

"Ele está à frente do seu tempo, né? Ele é o artista cearense que teve uma projeção nacional e internacional que realmente levanta a bandeira do coletivo".

No palco onde aconteceu o primeiro show do Pessoal do Ceará, o Theatro José de Alencar, Ednardo vai ser agraciado com o Troféu Sereia de Ouro 2023.

"Faz bem ao ego o reconhecimento. Eu acho que qualquer artista deseja isso, quer o reconhecimento do público, os meios em comunicação, os meios que movimentam a arte. Me deixa feliz. Isso é maravilhoso", conclui Ednardo.

G1 CE

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