O pequeno Benício Xavier de Freitas, de apenas 6 anos, morreu na madrugada do último domingo (23/11) no Hospital Santa Júlia, na zona oeste de Manaus, após receber três doses de 3 ml de adrenalina por via intravenosa. Os pais, o engenheiro mecânico Bruno Mello de Freitas, professor e coordenador de Qualidade da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), e a mãe do menino registraram Boletim de Ocorrência e prestaram depoimento nesta terça-feira (25/11) no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP). Eles acusam o hospital de erro médico por prescrição e administração de dosagem incorreta do medicamento.
“Queremos justiça pelo nosso filho. Não é sobre dinheiro, é sobre responsabilidade. Queremos que nenhuma outra criança passe por isso. Essa dor é insuportável”, declarou Bruno Mello de Freitas, ainda muito abalado, ao deixar a delegacia.
O que aconteceu, segundo os pais
Benício, filho único do casal, chegou ao pronto-socorro do Santa Júlia no sábado (22) à noite com tosse seca e suspeita de laringite. Foi atendido por uma pediatra que prescreveu lavagem nasal, soro fisiológico, xarope e três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml, com intervalo de 30 minutos.
“Nunca tinham aplicado adrenalina na veia do Benício, só nebulização. Perguntamos à técnica de enfermagem se era mesmo intravenoso. Ela respondeu que também nunca tinha feito isso na vida, mas que estava na prescrição e que ia aplicar”, relatou o engenheiro Bruno Mello de Freitas.
Logo após a primeira dose, o menino teve reação grave: ficou pálido, pés amarelados, nariz e olhos vermelhos. “Ele se contorceu e gritou: ‘Mãe, meu coração está queimando’”, lembra o pai, com a voz embargada.
Seis paradas cardíacas na UTI
“A médica me chamou depois e disse que ele não respondeu bem à intubação. Ela falou em duas paradas cardíacas. A enfermeira corrigiu e disse que foram três. Eu vi meu filho lá, intubado, com sangue na boca”, afirmou.
Por volta das 23h, Benício precisou ser intubado. Durante o procedimento começou a vomitar e sangrar pela boca e nariz. Sofreu então as primeiras paradas cardíacas.“A médica me disse que foram duas. A enfermeira corrigiu: foram três. Eu vi meu filho intubado, cheio de sangue na boca”, contou o pai. Bruno permaneceu ao lado do leito e presenciou as paradas seguintes:
4ª parada – “Eu me ajoelhei, segurei o pezinho dele, orei. Ele voltou.”
5ª parada – “Voltou de novo, mas já estava muito debilitado. Dava pra ver que ele lutava.”
6ª e última parada – A mais longa. Benício voltou a cuspir sangue. “A enfermeira que fazia massagem cardíaca chegou a parar. Perguntei se precisava de ajuda, ela disse que continuava. A médica já estava com o estetoscópio pronto para confirmar a morte. Eu gritei ‘Volta, Benício!’. Ele voltou mais uma vez, mas estava em sofrimento extremo.”
Minutos depois, o menino não respondeu mais às manobras e teve o óbito constatado às 2h55.“Foi erro de sistema e da enfermagem”, teria dito a médica, segundo o paiBruno afirma que a própria médica reconheceu falhas: “Ela disse que foi erro de sistema e erro da enfermagem. Mas tudo estava prescrito por ela. A dosagem de 3 ml IV estava escrita de próprio punho.”“Ele só tinha tosse seca. Essa dose é para quem está infartando ou em choque grave. Foi um erro gravíssimo”, completou.
Posição do hospital
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que iniciou análise técnica detalhada conduzida pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente e que está à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos necessários.
Comunidade acadêmica e profissional em luto
A comoção se espalhou pela Universidade do Estado do Amazonas e pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (Crea-AM). Em nota oficial, o Crea-AM manifestou profundo pesar pelo falecimento de Benício, “filho do engenheiro mecânico Bruno Mello de Freitas, professor e coordenador de Qualidade da EST/UEA”.
“Neste momento de imensa dor, o Crea-AM se solidariza com o engenheiro Bruno Mello de Freitas, sua esposa e toda a família, rogando a Deus que lhes conceda força e serenidade para suportar essa perda irreparável”, diz o texto.
O risco da adrenalina intravenosa em crianças
Especialistas reforçam que 3 ml de adrenalina 1:1.000 (concentração comum em ampolas) por via intravenosa equivalem a 3 mg — dose de 12 a 15 vezes superior à recomendada para uma criança de 20–25 kg. Essa superdosagem pode causar hipertensão grave, arritmias fatais e morte súbita.
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar imperícia, imprudência ou negligência. O laudo necroscópico deve sair em até 30 dias. Bruno Mello de Freitas e a esposa aguardam os resultados para dar sequência às medidas judiciais.














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