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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

CEARÁ: Efetivo reduzido da Polícia Civil prejudica investigações

Policiais reclamam de diversas dificuldades, como desvio de função, e cobram valorização no novo ano

Agentes relatam casos em que os policiais têm de abrir mão do descanso e trabalhar mesmo nas folgas para alcançar os objetivos e combater a criminalidade ( Foto: Érika Fonseca/Agência Diário ) Em várias cidades do Interior, a Polícia Civil atende a população em delegacias que funcionam em casas alugadas. Redenção, por exemplo ( Foto: Natinho Rodrigues )

Uma instituição cuja missão é "promover a apuração das infrações penais, exceto as militares, em defesa da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio". A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), em outras palavras, é responsável pela investigação dos crimes, fazendo a prevenção de delitos ao "exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária estadual visando a apuração das infrações penais e de sua autoria, através do inquérito policial e de outros procedimentos de sua competência".
 
 O órgão tão importante para a manutenção da ordem pública reclama de desvalorização e cobra melhorias. Desvio de função dos servidores, improviso de delegacias e sobrecarga de áreas de atuação são alguns dos pontos mais enfatizados pelos civis como problemas a serem resolvidos. A cobrança aumentou após o governo voltar os olhos à Polícia Militar, com a Lei de promoções, no ano passado.

Conforme dados do Sindicato dos Policiais Civis do Ceará (Sinpol-CE), são aproximadamente 2.500 agentes da PCCE em atividade no Estado, que possui cerca de 9 milhões de habitantes. O Estado de Pernambuco, por exemplo, conta com algo em torno de 7 mil policiais civis, conforme o Sindicato.

Atuação ameaçada

O presidente do Sinpol, Gustavo Simplício, lamenta o baixo efetivo, pontuando que a falta de pessoal afeta diretamente na atuação da Polícia Civil. "Estamos com efetivo reduzido. Mesmo com o último concurso público realizado, ainda estamos com carência. Em 1981, tínhamos 4.300 policiais civis, entre delegados, inspetores e escrivães, para uma população de 5 milhões de pessoas; hoje, temos 2.500 policiais e quase 9 milhões de habitantes. Teríamos que ter hoje, no mínimo, um efetivo como o de Pernambuco para a Polícia Civil trabalhar de uma forma um pouco melhor. 2015 foi o ano da PM. Queremos que 2016 seja o ano da PCCE. Para resgatá-la, revivê-la, tirá-la da UTI. Não digo que a Polícia Civil está falida, mas que está doente. Fica uma pequena esperança para 2016", ponderou Simplício. Ele relatou que há desvios de função no dia a dia dos policiais civis que deixam de investigar roubos, furtos, homicídios, latrocínio, tráfico de drogas, estelionatos, fraudes, por exemplo, para fazer a custódia de presos recolhidos em Delegacias.

"Temos excesso de presos nas delegacias, e nossos policiais estão custodiando presos. Isso não é função dos policiais civis. Estamos vendo o crime crescer no Ceará e não é pela falta de investigação mas pela falta de prevenção. Já não há, no Ceará, policiais suficientes e os que temos estão sendo desviados de suas funções", reclamou.

Gustavo Simplício denunciou que algumas operações da PCCE realizadas em todo o Estado, para acontecerem, contam com a boa vontade dos policiais. Conforme o presidente do Sindicato, há agentes que abdicam do próprio descanso para trabalhar. Um exemplo, diz ele, foi a "Operação Medellín", no Município do Crato, na última quinta-feira (7), resultando na prisão de mais de 30 pessoas.

"Para esse serviço do Crato, policiais de folga de outras regiões tiveram de deixar seu descanso, até sem receber adiantado a diária como se deve, para fazer a megaoperação. A Polícia Civil está fazendo muita coisa pela boa vontade dos próprios policiais, mas está muito difícil. Teve delegado no Interior que, no feriadão do ano novo, trabalhou por cinco dias direto, sem ir pra casa, por não ter pessoal. Muitos estão chegando à estafa, não estão conseguindo trabalhar", denunciou.

A Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará (Adepol) relata outros problemas enfrentados pelas autoridades policiais. Conforme estimativas da Associação, seriam 25 delegacias no Estado que estão sem delegado, obrigando profissionais de outras unidades a assumirem a responsabilidade pelas áreas. O presidente da Adepol, delegado Milton Castelo, se diz preocupado com a situação.

"Vejo que não há a devida atenção à Polícia Civil. Para se ter uma ideia, o delegado de Caucaia responde também pelo 23º DP (Nova Metrópole) e pelo 18º DP (Jurema). E isso é só um exemplo. No Interior, tem delegado respondendo por quatro, cinco, seis municípios", disse.

Outro problema relatado é que há várias delegacias funcionando improvisadas por todo o Ceará, em casas alugadas. Um exemplo é a Delegacia Municipal de Redenção, visitada pela reportagem duas vezes em 2015. Além de atender ao Município, os policiais da unidade ainda têm de investigar crimes em mais duas cidades vizinhas.

A Adepol estima que há cerca de 290 delegados de Polícia Civil em atividade, espalhados em todo o Estado. Praticamente a metade deles trabalha na Capital.

"A gente nota que se está priorizando as questões da Polícia Militar. É importante, mas tem que haver uma visão compartilhada dos investimentos", analisou o delegado.
 
Fonte: Diário do Nordeste

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