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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Herói na Irlanda: brasileiro que deteve ataque recebe homenagem em Embaixada

Caio Castro Benício impediu que um homem armado com uma faca matasse uma menina de 5 anos.
O entregador brasileiro Caio Castro Benício, que impediu que um homem armado com uma faca matasse uma menina de 5 anos e a professora que tentava defendê-la, em Dublin, na Irlanda, foi recebido nesta terça-feira na Embaixada brasileira no país. Em post compartilhado nas redes sociais, ele aparece recebendo a placa de "Prêmio de Mérito", por seu "heroico ato de bravura".

Em entrevista ao GLOBO, o brasileiro, Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e que se tornou uma figura conhecida internacionalmente, conta que já recebeu quase R$ 2 milhões (634 mil euros) em doações e que ofereceu o valor da vaquinha à família da criança, para arcar com as despesas da internação e tratamento das feridas sofridas pela menina, que ainda está em estado grave. No entanto, os parentes escolhera não aceitar a ajuda.

— Eu nem sabia dessa vaquinha. Fiquei sabendo dois ou três dias depois do ocorrido, porque um roommate veio me perguntar se eu sabia dela, porque poderia ser alguém querendo se aproveitar da situação. A essa altura já tinha uns 15 mil euros. Depois, a plataforma entrou em contato comigo e me cadastraram como beneficiário. No dia seguinte meu nome saiu aqui nos jornais e as doações explodiram. Eu não tenho a menor ideia do que fazer com esse dinheiro. Minha ficha não caiu. Não tenho a menor ideia do que vou fazer da minha vida daqui para frente. Ofereci (o valor arrecadado) aos pais, para arcar com as despesas de hospital, porque eu quero ajudar, mas eles não aceitaram num primeiro momento. Claro, estão muito nervosos com tudo.


'Me senti mal com essa história de herói'

Caio conta que se sentiu desconfortável com toda a repercussão positiva sobre ele, enquanto as vítimas, sobretudo a menina de 5 anos, ainda estão correndo risco de vida. O niteroiense conta que, apesar de feliz com o reconhecimento, tinha uma sensação de desconforto. Até que, após um boato falso de que a garotinha havia morrido, ele decidiu ir ao hospital e se surpreendeu ao ser bem recebido pelos pais dela.

— Os pais queriam privacidade e não estavam recebendo ninguém. Quando me identifiquei, eles fizeram questão que eu subisse e me trataram com muito carinho, conversamos. A partir dali eu passei a me sentir em paz com a situação, consegui voltar a dormir — conta. — Ela passou por uma cirurgia, porque um dos ferimentos atingiu o coração, mas reagiu bem. Agora, a cada hora que passa os médicos dizem que ela fica um pouquinho mais forte. É um processo de melhora, apesar de ser muito devagar. O estado dela é muito crítico.

Além da arrecadação, o brasileiro também recebeu medalha das mãos do primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar, sendo considerado herói nacional no país europeu.


'O vi apunhalando a faca nela três vezes

Ele fazia entregas na hora do almoço, quando estava descendo a Parnell Square, área movimentada do Centro de Dublin, e viu que havia uma movimentação estranha.

— Parecia uma confusão, uma briga, e eu diminuí a velocidade da moto para ver o que estava acontecendo. Aí vi que o cara puxava uma criança para um lado e uma mulher puxava para o outro. Depois fiquei sabendo que ela era uma professora da escola. Em seguida, vi que ele estava com uma faca. Aquela garotinha de 5 anos, pequenininha não tinha condições de se defender. Eu parei a moto imediatamente, joguei no chão e ainda o vi apunhalando a faca nela, umas três vezes. Meu pensamento foi de descer da moto e fazer aquele cara parar. Eu não tive tempo de pensar em nada, agi por instinto. Nunca havia feito nada parecido. Não quis ser herói. Meu único pensamento era "esse cara não pode mais enfiar a faca nessa menina". Tirei o capacete, golpeei ele na cabeça com toda a força que eu tinha e numa pancada só ele desabou.

Ele conta que, nesse momento, ele e pelo menos outras três pessoas se juntaram para continuar batendo no agressor, até que a polícia chegou.

— Quando ele já estava imobilizado, eu fui ver o estado da garotinha. Eu não tinha visto antes, porque como está muito frio aqui, as pessoas estão usando várias camadas de roupa, mas ela estava muito ferida. Uma cena horrível, chocante, ela é muito pequenininha. Estava pálida e os médicos faziam massagem cardíaca nela. E depois fiquei sabendo que ainda havia outras crianças feridas dentro da escola — relembra. — Saindo dali, eu já fiquei em estado de choque. Vi todo o desespero dos pais chegando, e isso me marcou muito também. Me deixou traumatizado, na verdade. O desespero daqueles pais... eu sou pai também. Me colocava na situação deles, não quero passar por isso nunca na minha vida. Eles chegando e recebendo a notícia de um atentado, e não sabiam se havia acontecido algo com os filhos.

Depois, ele acompanhou os policiais até a delegacia e prestou depoimento. Antes disso, tentou pegar seu capacete, mas os agentes não deixaram: "faz parte da cena do crime". Mal sabia ele que esse seria o estopim para que seu caso ficasse conhecido.

— Me deram calmante, porque eu estava em estado de choque, e eu fui para casa. Mas não conseguia descansar. A minha mão não parava de tremer. Foram pelo menos duas noites sem dormir. E fiquei tão desorientado, por estar em outro país, e minha família longe, com necessidade de mandar dinheiro para eles, que eu só queria um capacete emprestado para continuar trabalhando. Foi aí que começou a circular entre os colegas que eu precisava arrumar um capacete, "o homem que teve a coragem de parar o ataque precisa de um capacete", e começou o burburinho. A coisa estourou quando o Conor McGregor compartilhou isso. "O brasileiro herói". Isso tomou uma dimensão absurda.

Caio conta que foi morar pela primeira vez na Europa quando tinha 18 anos. Permaneceu em Londres por cinco anos, conheceu sua esposa e teve a primeira filha. Depois, retornou ao Brasil e com o dinheiro que conseguiu juntar, abriu seu bar, o Barkana, em Icaraí. "O restaurante ficou bem famoso, fiquei à frente dele por 18 anos, até que pegou fogo e eu não consegui reerguer", relembra. Em dezembro do ano passado, aproveitou seu passaporte português e decidiu tentar uma alternativa em Dublin.

— Decidi fazer uma coisa meio provisória, ver o que acontece. Como já tenho passaporte português, vim para Dublin, que é um lugar que tem crescido muito, e trabalho como delivery, tenho flexibilidade. Fico aqui quatro meses e, como fico sozinho, trabalho muitas horas. Depois passo dois meses no Brasil com a família — conta.

O GLOBO

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