Entre os presos, estão membros das quatro principais facções que atuam no Estado. As capturas ocorreram em todo o Ceará e até em outros estados brasileiros.
A intensificação das ações de facções criminosas, no Ceará, exige uma resposta à altura da Polícia. Neste ano, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas de Fortaleza (Draco Capital), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), já prendeu 488 suspeitos, até a última sexta-feira (5).
44,8% é o aumento percentual de prisões, de 2024 para 2025, até então, faltando quase 4 meses para o fim do ano. Em todo o ano passado, a Delegacia especializada no combate às facções prendeu 337 suspeitos.
A Draco Capital foca em organizações criminosas que atuam em Fortaleza e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), mas realiza prisões em todo o Estado e até em outros estados brasileiros - que têm relação com o crime organizado na Grande Fortaleza.
A reportagem apurou que, entre as prisões realizadas pela Delegacia no ano corrente, estão membros das quatro principais facções que atuam no Ceará: Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDE), Massa Carcerária e Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ao somar as prisões realizadas por todas as Forças de Segurança do Estado, já foram detidos 1.131 membros de organizações criminosas, nos sete primeiros meses de 2025, o que representa um aumento de 52% no comparativo com igual período de 2024 (que teve cerca de 744 prisões), segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Márcio Gutiérrez.
Entre as principais prisões realizadas pela Draco em 2025, está a captura de José Roberto de Sousa Severo, o 'Imperador' ou 'Jogador', apontado como um líder do Comando Vermelho responsável por ordens de ataques a rivais e expulsões de moradores no Vicente Pinzón, em Fortaleza. A partir da investigação contra ele, a Delegacia descobriu que a organização criminosa está próxima de tomar o controle de todo o tráfico de drogas em Fortaleza e que tem o plano de tomar as áreas dos portos cearenses, para exportar mais drogas para os Estados Unidos e para a Europa.
Operações contra CV e GDE
Somente nos últimos 30 dias, a Draco Capital prendeu 155 suspeitos de integrar facções criminosas. Em igual período de 2024, foram 41 prisões. O aumento percentual foi de 278%.
Esse é um dado que mostra um acréscimo gigante dessas prisões desses integrantes de organizações criminosas, sejam de origem local, carioca ou paulista. Combatemos o crime diuturnamente. "Thiago Salgado.
Titular da Draco Capital
O número de prisões foi impulsionado pelas duas últimas fases da Operação Nocaute, contra as facções Guardiões do Estado e Comando Vermelho. A reportagem apurou, com fontes da Polícia, que os dois grupos criminosos estão envolvidos na maioria dos conflitos entre facções do Estado.
CV e GDE travam uma "guerra", desde junho, nos bairros Vicente Pinzón e Papicu, em Fortaleza, com aumento de mortes e de tiroteios. Mais de 100 suspeitos foram presos, na região. O Comando Vermelho também é apontado como o responsável por ameaças a empresários proprietários de provedores de internet e clientes, ocorridas principalmente entre os meses de março e abril deste ano. Pelo menos 79 suspeitos de ligação com os crimes foram capturados, na Operação Strike, coordenada pela Draco.
O delegado-geral Márcio Gutiérrez afirmou, com a deflagração da sexta fase da Operação Nocaute, na última sexta-feira (5), que essas ações policiais buscam "sufocar essas organizações criminosas, que tiram a paz e a tranquilidade da nossa população através da imposição de medo e de ataques, dentro dessa dinâmica de disputa de crime organizado".
Ordens oriundas do Rio de Janeiro
A última ofensiva da Draco contra o crime organizado teve como alvo um braço do Comando Vermelho que atua principalmente em Maranguape, município da Região Metropolitana de Fortaleza que foi considerado a cidade mais violenta do Brasil em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025.
A Operação Nocaute VI cumpriu 38 mandados de prisão contra a organização criminosa carioca. Entre os presos, está Tiago Sousa da Silva, o 'Sheylong', de 29 anos, que passou dois dias em liberdade - após ser inocentado em um processo por homicídio e solto pela Justiça Estadual.
Segundo as investigações da Draco, 'Sheylong' assumiu a liderança do CV em Maranguape após a prisão de Rogério Gomes de Oliveira, o 'Rogério Cego' ou 'Coroa', em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 2023.
'Rogério Cego' foi transferido do Rio de Janeiro para o Ceará, no último mês de agosto. "Ele estava comandando, determinando ações no nosso Estado, por isso buscamos o recambiamento. Foram apreendidos 10 aparelhos celulares na cela dele. Pleiteamos que permaneça no presídio de segurança máxima. Ele já está no Ceará. Trouxemos ao nosso Sistema (Penitenciário) já para coibir esse tipo de ação", disse o diretor da Divisão de Repressão e Combate ao Crime Organizado (DRCO), o delegado Ricardo Pinheiro.
Cadastro de 'RH' da facção
Já a Operação Nocaute V, deflagrada no dia 20 de agosto deste ano, foi originada pela descoberta de um cadastro de membros da facção criminosa Guardiões do Estado, feita pela Polícia Civil há cerca de 10 meses. O banco de dados se assemelhava a um cadastro de funcionários mantido pelos Recursos Humanos de uma empresa, segundo os investigadores.
139 suspeitos foram identificados e tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Estadual. Em grupos da rede social WhatsApp, os criminosos compartilhavam dados como nome completo, foto, "vulgo" (apelido), data de nascimento, "quebrada" (área de atuação), "padrinho" (quem o apadrinhou na facção), tempo de atuação e especialidade (quais crimes costuma cometer).
"Cada um tinha o seu cadastro com foto, nome, apelido, tempo no crime, padrinho, bairro, 'quebrada', todas essas informações, como se fosse uma empresa mesmo, como se fosse um RH desse grupo criminoso. Foi desarticulada essa organização criminosa, visando não só a prisão desses indivíduos, bem como asfixiar financeiramente esses indivíduos", resumiu o delegado Thiago Salgado, à época da Operação.
Na ofensiva policial, foram cumpridos 88 mandados de prisão - sendo 43 contra suspeitos que estavam em liberdade e 45 contra pessoas que já estavam presas. Outros 51 alvos da Operação não foram localizados e são considerados foragidos da Justiça.
(Diário do Nordeste)