Em algum dia comum, sem data marcada no calendário e sem despedidas anunciadas, você e seus amigos brincaram na rua pela última vez. Foi uma tarde como tantas outras: risadas soltas, correria sem destino, joelhos ralados, gritos chamando pelo nome, a bola rolando no asfalto, a imaginação comandando o mundo. Ninguém percebeu naquele instante, mas ali se encerrava uma era.
Era o fim silencioso da infância. O adeus à inocência que não sabia o peso do tempo, nem as cobranças da vida adulta. O último encontro em que a proximidade era natural, espontânea, sem celulares, sem agendas, sem compromissos. Apenas o agora.
Naquele dia, ninguém pensou que seria a última vez. Não houve foto, não houve promessa de repetir no dia seguinte. Cada um foi para casa como sempre, acreditando que tudo continuaria igual. Mas o tempo, discreto e implacável, tratou de mudar os caminhos.
Vieram as responsabilidades, as preocupações, os medos, as escolhas. Vieram novas rotinas, novos círculos, novas prioridades. Os encontros se tornaram raros, as conversas mais curtas, e a rua — antes palco de sonhos — ficou pequena diante do mundo.
Hoje, ao lembrar, bate a saudade. Não apenas das brincadeiras, mas de quem éramos ali: leves, presentes, inteiros. A última brincadeira não marcou só o fim de uma tarde, marcou o encerramento de uma fase que nunca mais voltou do mesmo jeito.
E talvez seja isso que mais doa: perceber que as coisas mais importantes da vida, muitas vezes, acontecem sem aviso. A gente vive… e só depois entende.














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