Combinação de duas terapias apresentou, em estudos clínicos, uma sobrevida superior e maior controle dos sintomas em comparação ao tratamento padrão.
Aos 63 anos, Mara Lúcia Rafaeli sempre foi sinônimo de vitalidade. Adepta de esportes, caminhadas e escaladas, ela jamais imaginou que enfrentaria um câncer de pulmão, diagnosticado em 2018. O choque foi ainda maior por nunca ter fumado — hábito geralmente associado à doença. Desde então, sua rotina, antes marcada por atividades ao ar livre, passou a ser dominada por consultas médicas, cirurgias, quimioterapia e radioterapia.
Após enfrentar reações severas durante o tratamento, como queimaduras no esôfago, Mara acreditava ter superado a fase mais difícil. No entanto, dois anos depois, durante a pandemia, exames mostraram que nódulos remanescentes haviam voltado a crescer. “A recidiva foi mais difícil de ser encarada do que o diagnóstico”, lembra.
Foi nesse cenário que surgiu uma nova oportunidade: a inclusão em um estudo clínico que testava a combinação de duas drogas inovadoras — amivantamabe (Rybrevant) e lazertinibe (Lazcluze). A pesquisa comparava o tratamento com a terapia padrão disponível no país, mostrando resultados promissores. De acordo com os dados do estudo MARIPOSA (fase 3), 56% dos pacientes estavam vivos após 3,5 anos com a combinação, contra 44% entre aqueles que usaram apenas o medicamento padrão.
Segundo o oncologista Vitor Marcondes, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estratégia é voltada para pessoas com câncer de pulmão que apresentam mutação no gene EGFR, condição que torna a doença mais agressiva. “A união das duas drogas atua em diferentes receptores do gene alterado, o que amplia a eficácia do tratamento e reduz o risco de novas mutações”, explica.
Para Mara, os efeitos da terapia vão além das estatísticas. Ela voltou a dirigir, a fazer compras sozinha e, recentemente, retomou atividades físicas que estavam interrompidas desde o início da doença. Hoje, prepara-se para um desafio pessoal: percorrer 320 km em uma caminhada de peregrinação. “Essa oportunidade me trouxe esperança de novo. É como uma luz que se acende quando tudo parece escuro”, afirma.
Apesar de o tabagismo ser o principal fator de risco para o câncer de pulmão, especialistas lembram que não é o único. Exposição à poluição, infecções pulmonares de repetição, histórico familiar e até fatores genéticos podem aumentar as chances da doença.
No Brasil, segundo o Inca, são registrados anualmente mais de 44 mil novos casos e quase 38 mil mortes por câncer de pulmão, que é a principal causa de morte por câncer no mundo. A chegada de terapias-alvo, como a que Mara está utilizando, representa um avanço importante: oferece mais tempo e qualidade de vida a pacientes que, até poucos anos atrás, tinham opções limitadas de tratamento.
Fonte: Via Sistema Paraioso
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